A impressão de que o sarampo faz parte das doenças benignas da infância
é equivocada. Antes da vacina, as complicações provocavam a morte de mais de 2
milhões de crianças por ano, porque o vírus causa depressão imunológica,
fragilidade que predispõe a complicações bacterianas e virais.
A vacinação reduziu as dimensões dessa tragédia mundial: em 2010, o
número de mortes havia caído para 139 mil. A epidemia que se alastra pela Europa é
particularmente chocante, porque ocorre numa região em que a maioria dos países
conta com serviços de saúde que servem de exemplo para os mais pobres. Como explicar?
Para proteger uma população contra o sarampo, pelo menos 95% das pessoas
devem ser vacinadas, número que os europeus sempre tiveram dificuldade para
atingir, porque, à medida que a enfermidade se tornou mais rara, muitos
passaram a subestimar o risco de contraí-la e a superestimar as complicações da
vacina (que são mínimas), fenômeno que se repete sempre que uma doença transmissível
se torna menos prevalente.
Alguns pais esquecem ou não encontram tempo para vacinar seus filhos, em
postos de saúde que geralmente funcionam apenas no horário comercial.
Anos atrás, um gastroenterologista inglês, chamado Andrew Wakefield,
alegou que a vacina tríplice contra sarampo, caxumba e rubéola estaria
associada a casos de autismo. A divulgação dessa hipótese absurda assustou
muitas famílias. Quando ficou demonstrado que ela se baseava em dados
fraudulentos, o estrago já estava feito.
Com argumentos de ordem filosófica, certas comunidades antroposóficas,
grupos religiosos e ativistas antivacinas (sim, eles existem) convencem seus
membros a jamais vacinar os filhos. Por incrível que pareça, algumas dessas
seitas têm número significativo de seguidores nos diversos países europeus.
Finalmente, os sistemas de saúde sempre encontraram obstáculos para
atingir comunidades que vivem à margem da sociedade, como a dos ciganos, por
exemplo.
O fracasso dos europeus no combate ao sarampo
reforça a posição do Ministério da Saúde, que defende a necessidade de
continuarmos vacinando as crianças brasileiras, mesmo que não surjam casos na
vizinhança.
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